03 agosto 2006

INSERÇÃO DE PPDS NO MERCADO


A inserção e manutenção das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho - Rosanne Mª Medina Ávila Gomes - Especialista em Administração de Recursos Humanos - Consultoria Organizacional. Sandra Maria dos Santos Dra. - Universidade Federal do Ceará

INTRODUÇÃO
Investigar a problemática do portador de deficiência não é tarefa fácil. Isso se justifica pelo fato de qualquer "noção" ou "definição" de deficiência implicar uma imagem que a sociedade faz sobre esses indivíduos. Toda vez que forem usadas palavras como: "excepcional", "louco", "aleijado", "deficiente mental", etc, são construídas algumas concepções daquilo que todas essas palavras querem dizer. Isso significa que todos esses "rótulos" compõem a personalidade do indivíduo, partindo-se da premissa de que ele é diferente das pessoas consideradas "normais".
A sociedade favorece tais concepções, pois estabelece padrões de normalidade que devem ser obedecidos por todos. Aqueles que fogem das suas normas são colocados à parte e excluídos do meio social. Segundo Goffmam (1988:62),
a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias.
O Brasil é um dos países que apresenta um alto índice de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. Estima-se, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, que, neste país, 16 milhões de pessoas são portadoras de deficiência, sendo registradas como mais freqüentes as físicas e as mentais. Paralelamente a este fato, encontra-se neste país uma das menores taxas de participação deste segmento social no mercado de trabalho, visto que 9 milhões estão em idade de trabalhar, entretanto os que trabalham no mercado formal somam cerca de 2%, enquanto nos países mais avançados esta proporção fica entre 30% e 45% (PASTORE, 2000:76).
A questão da deficiência não se limita ao desenvolvimento físico, auditivo e mental, nem exclusivamente no comportamento humano, mas, sobretudo, nas implicações sociais que revestem o portador de deficiência, emerge a necessidade de ser apresentado o enfoque social e trabalhista da problemática.
Desta forma, propõe-se, portanto, compreender e analisar a realidade da inserção e manutenção do portador de deficiência no atual mercado de trabalho. Para a realização desse estudo, partiu-se de uma compreensão teórica dentro da perspectiva social e trabalhista sobre a questão da deficiência, e da análise dos dados coletados nos relatos das pessoas portadoras de deficiência sobre a sua inserção e as maiores dificuldades enfrentadas para conseguirem se manter no mercado de trabalho.
Longe de tentar esgotar a temática, esse estudo busca contribuir para o debate acerca da problemática dos portadores de deficiência inseridos nas empresas, oferecendo subsídios para novos trabalhos nessa área.
1 A Deficiência como Fenômeno Social
1.1 Contexto Histórico no Tratamento da Questão da Deficiência
A problemática da deficiência não é específica das sociedades modernas, uma vez que emerge nas relações milenares dos homens com os homens. São estas que geram direta ou indiretamente as pessoas portadoras de deficiência.
Ao longo da história da humanidade, a deficiência teve um percurso marcado por sérias conseqüências em relação a seus portadores. A forma pela qual tais segmentos sociais eram considerados, tratados ou compreendidos sempre variou muito nas diversas sociedades, visto que estas não se constituem em organismos estanques e imutáveis, sendo composta por seres humanos, que estabelecem as relações sociais, as quais são envolvidas por valores, normas e costumes que estão em constante devir, de acordo com o contexto histórico-social que os envolvem.
Assim, verifica-se que desde o início dos tempos os portadores de deficiência foram alijados do convívio social e impedidos de participar e desenvolver suas capacidades como seres humanos e cidadãos, em virtude de apresentarem uma inteligência ou habilidade inferior àquela considerada normal para os padrões da época.
É possível perceber tal fato desde o período da pré-história, quando o homem se associou a outros homens para poder sobreviver diante de uma natureza hostil. Nesta fase, cada membro do grupo era importante para a própria sobrevivência da coletividade. Porém, aqueles que não eram considerados úteis (conforme os valores do momento) foram colocados à margem por não terem a capacidade de se defender.
A antiguidade foi a época em que os portadores de deficiência, foram considerados como "seres mal-ditos", depositários do mal, fonte de repulsa, de medo, seres divinizados ou com uma conotação de dádiva ou castigo divino. Isto se deve ao fato de tal sociedade ser marcada fortemente pelo misticismo, passando a atribuir a entidades ocultas, o que para ela era inexplicável.
Nas sociedades escravagistas, mais especificamente em Esparta, cidade militarista da Grécia Antiga, no século XI (a.c), os portadores de deficiência eram propriedades do Estado. Quando uma criança nascia, era levada a um lugar pelos anciãos da tribo que a examinavam. Se ela fosse robusta e forte, poderia sobreviver. Se por acaso fosse "defeituosa", julgavam que a morte era melhor tanto para a criança como para a cidade. Assim, após o exame, resolviam jogá-la do alto do monte Taygetos (CARNEIRO, 1995: 12).